Era uma vez - Fábulas e Lendas: Pau de Dois Bicos, fábula de Monteiro Lobato

Olá, crianças!

21 de maio de 2012

Pau de Dois Bicos, fábula de Monteiro Lobato


Um morcego estonteado pousou certa vez no ninho da coruja, e ali ficaria de dentro se a coruja ao regressar não investisse contra ele.
- Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha casa, sabendo que odeio a família dos ratos?
- Achas então que sou rato? Não tenho asas e não vôo como tu? Rato, eu? Essa é boa!...
A coruja não sabia discutir e, vencida de tais razões, poupou-lhe a pele.
Dias depois, o finório morcego planta-se no casebre do gato-do-mato. O gato entra, dá com ele e chia de cólera.
- Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha toca, sabendo que detesto as aves?
- E quem te disse que sou ave? - retruca o cínico - sou muito bom bicho de pêlo, como tu, não vês?
- Mas voas!...
- Vôo de mentira, por fingimento...
- Mas tem asas!
- Asas? Que tolice! O que faz a asa são as penas e quem já viu penas em morcego? Sou animal de pêlo, dos legítimos, e inimigo das aves como tu. Ave, eu? É boa...
O gato embasbacou, e o morcego conseguiu retirar-se dali são e salvo.
Moral da Estória:
O segredo de certos homens está nesta política do morcego. É vermelho? Tome vermelho. É branco? Viva o branco!