Era uma vez - Fábulas e Lendas: setembro 2012

Olá, crianças!

25 de setembro de 2012

Os dois burrinhos de tropa


Muito lampeiros, dois burrinhos de tropa seguiam trotando pela estrada além. O da frente conduzia bruacas de ouro em pó; e o de trás, simples sacos de farelo. Embora burros da mesma igualha, não queria ser o primeiro que o segundo lhe caminhasse ao lado.
- Alto lá! - dizia ele - não se emparelhe comigo, que quem carrega ouro não é do mesmo naipe de quem conduz feno. Guarde cinco passos de distância e caminhe respeitoso como se fosse um pajem.
O burrinho do farelo submetia-se e lá trotava, de orelhas murchas, roendo-se de inveja do fidalgo...
De repente...
Osh! Oah! São ladrões da montanha que surgem de trás de um tronco e agarram os burrinhos pelos cabrestos.
Examinam primeiramente a carga do burro humilde e, - Farelo! - exclamaram desapontados - o demo o leve! Vejamos se há coisa de mais valor no da frente.
- Ouro, ouro! - gritam, arregalando os olhos. E atiram-se ao saque.
Mas o burrinho resiste. Desfere coices e dispara pelo campo afora. Os ladrões correm atrás, cercam-no e lhe dão em cima, de pau e pdra. Afinal saqueiam-no.
Terminada a festa, o burrinho do ouro, mais morto que vivo e tão surrado que nem suster-se em pé podia, reclama o auxílio do outro que muito fresco da vida tosava o capim sossegadamente.
- Socorro, amigo! Venha acudir-me que estou descadeirado...
O burrinho do farelo respondeu zombeteiramente:
- Mas poderei por acaso aproximar-me de Vossa Excelência?
- Como não? Minha fidalguia estava dentro da bruaca e lá se foi nas mãos daqueles patifes. Sem as brucas de ouro no lombo, sou uma pobre besta igual a você...
- Bem sei. Você é como certos grandes homens do mundoque só valem pelo cargo que ocupam. No fundo, simples bestas de carga, eu, tu, eles...
E ajudou-o a regressar para casa, decorando, para uso próprio, a lição que ardia no lombo do vaidoso.

Autor: Monteiro Lobato


23 de setembro de 2012

O elefante furioso, Lenda árabe


Na floresta de Shaiva, na índia, vivia um sábio que tinha vários discípulos, aos quais falava sempre sobre pontos obscuros de doutrinas e religiões.
Certo dia este sábio ensinou palavras que provinham das escrituras sagradas:
"Deus reside em tudo do universo. Tanto no homem quanto na víbora. Tanto no elefante quanto na pedra solta na estrada."
Ajamila, o mais jovem dos discípulos, guardou fielmente os ensinamentos, profundos e filosóficos, ensinados pelo mestre.
E um dia, quando voltara de um monte onde fora buscar lenha, encontrou um homem que conduzia um elefante furioso.
O homem, que percebeu que não estava conseguindo dominar o animal, começou a gritar:
- Hei! Você, saia do caminho, o elefante está furioso!!
Em vez de fugir, o discípulo lembrou dos ensinamentos de seu mestre e pensou:
"Deus está naquele elefante.
Logo, não poderá me fazer mal, afinal, Deus não faz mal a ninguém." Então não se afastou. O elefante então atacou o imprudente e deixou-o atirado ao solo, ferido e sem sentidos.
Dois lenhadores que passavam por ali levaram o jovem até onde vivia o sábio. Quando recuperou os sentidos, Ajamila contou ao sábio o ocorrido e o motivo pelo qual ele não se afastou do elefante.
- Meu filho - explicou o sábio - é verdade que Deus está em todas as coisas, inclusive num elefante furioso.
Mas se estava manifestado no elefante, não deixava de estar igualmente em seu condutor. Por que não prestastes atenção nos conselhos cautelosos do homem, então? 

Lenda árabe

19 de setembro de 2012

O Jardim do velho pai...


Um velhinho vivia sozinho em Minnesota.
Ele queria cavar seu jardim, mas era um trabalho muito pesado. Seu único filho, que normalmente o ajudava, estava na prisão.

O velho então escreveu a seguinte carta ao filho, falando de seu problema:
"Querido filho,
Estou triste porque, ao que parece, não vou poder plantar meu jardim este ano. Detesto não poder fazê-lo porque sua mãe sempre adorava a época do plantio depois do inverno. Mas eu estou velho demais para cavar a terra. Se você estivesse aqui, eu não teria esse problema, mas sei que você não pode me ajudar com o jardim, pois está na prisão"
Com amor, papai"

Pouco depois o pai recebeu o seguinte telegrama:
"PELO AMOR DE DEUS, papai, não escave o jardim! Foi lá que eu escondi os corpos!"

Às quatro da manhã do dia seguinte, uma dúzia de agentes do FBI e policiais apareceram e cavaram o jardim inteiro, sem encontrar nenhum corpo. Confuso, o velho escreveu uma carta para o filho contando o que acontecera.

Esta foi a resposta:
"Pode plantar seu jardim agora, pai. Isso é o máximo que eu posso fazer no momento."

Autor desconhecido


12 de setembro de 2012

A Raposa e o Esquilo

Uma raposa orgulhosa vendo um pobre esquilo ser surpreendido por uma feroz tormenta, põe-se a escarnecer do animalzinho que tentava subir numa árvore:
- "Eis-te no esquife quase a repousar" - dizia. -"Em vão tentas cobrir com a cauda o rosto. Quanto mais sobes, mais a borrasca violenta a seus golpes fatais te encontra exposto. Ter por vizinho o raio e estar sempre na altura quiseste, e foi teu mal. Eu, numa toca obscura, posso rir-me e esperar que sejas feito pó."
Enquanto se vangloriava, a raposa devorava de uma dentada só muitos pobres franguinhos.
Por fim, a tormenta acaba: o relâmpago cessa, emudece o trovão, dissipa-se a tormenta e retorna a bonança. O céu voltou a ser azul e o sol mais brilhante que antes.
Nisto, um caçador que havia descoberto os rastros da raposa, diz:
-"Por certo, meus frangos vais pagar!"
E começou a lançar numerosos sabujos que a vão desalojar a raposa do seu covil.
O esquilo, do alto de um galho a vê fugir apavorada, veloz, à frente da matilha que a acossa ferozmente.
O bondoso esquilo poderia sentir prazer gratuito ao perceber se abrirem para ela as portas da agonia. Mas, vendo-o, não escarnece da impiedosa raposa, pois ainda traz na mente as sofridas impressões do susto recente...

MORAL DA FÁBULA: Dos miseráveis não se deve escarnecer, pois quem pode assegurar que só feliz vai ser?