Era uma vez - Fábulas e Lendas: A Garça Velha, de Monteiro Lobato.

Olá, crianças!

19 de julho de 2012

A Garça Velha, de Monteiro Lobato.


Certa garça nascera, crescera e sempre vivera à margem duma lagoa de águas turvas, muito rica em peixes. 
Mas o tempo corria e ela envelhecia. Seus músculos cada vez mais emperrados, os olhos cansados - com que dificuldade ela pescava! 
- Estou mal de sorte, e se não topo com um viveiro de peixes em águas bem límpidas, certamente que morrerei de fome. Já se foi o tempo feliz em que meus olhos penetrantes zombavam do turvo desta lagoa... 
E de pé num pé só, o longo bico pendurado, pôs-se a matutar naquilo até que lhe ocorreu uma idéia. 
- Caranguejo, venha cá ! - disse ela a um caranguejo que tomava sol à porta do seu buraco. 
- Às ordens. Que deseja? 
- Avisar a você duma coisa muito séria. A nossa lagoa está condenada. O dono das terras anda a convidar os vizinhos para assistirem ao seu esvaziamento e o ajudarem a apanhar a peixaria toda. Veja que desgraça! Não vai escapar nem um miserável guaru. 
O caranguejo arrepiou-se com a má notícia. Entrou na água e foi contá-la aos peixes. 
Grande rebuliço. Graúdos e pequeninos, todos começaram a pererecar às tontas, sem saberem como agir. E vieram para a beira d'água. 
- Senhora dona do bico longo, dê-nos um conselho, por favor, que nos livre da grande calamidade. 
- Um conselho? 
E a matreira fingiu refletir. Depois respondeu. 
- Só vejo um caminho. É mudarem-se todos para o poço da Pedra Branca. 
- Mudar-se como, se não há ligação entre a lagoa e o poço? 
- Isso é o de menos. Cá estou eu para resolver a dificuldade. Transporto a peixaria inteira no meu bico. 
Não havendo outro remédio, aceitaram os peixes aquele alvitre - e a garça os mudou a todos para o tal poço, que era um tanque de pedra, pequenininho, de águas sempre límpidas e onde ela sossegadamente poderia pescá-los até o fim da vida.

Moral da Estória:  Ninguém acredite em conselho de inimigo.