Uma raposa orgulhosa vendo um pobre esquilo ser surpreendido por uma feroz tormenta, põe-se a escarnecer do animalzinho que tentava subir numa árvore:
- "Eis-te no esquife quase a repousar" - dizia. -"Em vão tentas cobrir com a cauda o rosto. Quanto mais sobes, mais a borrasca violenta a seus golpes fatais te encontra exposto. Ter por vizinho o raio e estar sempre na altura quiseste, e foi teu mal. Eu, numa toca obscura, posso rir-me e esperar que sejas feito pó."
Enquanto se vangloriava, a raposa devorava de uma dentada só muitos pobres franguinhos.
Por fim, a tormenta acaba: o relâmpago cessa, emudece o trovão, dissipa-se a tormenta e retorna a bonança. O céu voltou a ser azul e o sol mais brilhante que antes.
Nisto, um caçador que havia descoberto os rastros da raposa, diz:
-"Por certo, meus frangos vais pagar!"
E começou a lançar numerosos sabujos que a vão desalojar a raposa do seu covil.
O esquilo, do alto de um galho a vê fugir apavorada, veloz, à frente da matilha que a acossa ferozmente.
O bondoso esquilo poderia sentir prazer gratuito ao perceber se abrirem para ela as portas da agonia. Mas, vendo-o, não escarnece da impiedosa raposa, pois ainda traz na mente as sofridas impressões do susto recente...